Olhares em números

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Comentário crítico de "Perfume - a história de um assassino"


Perfume – a história de um assassino, dirigido pelo alemão Tom Tykwer (Corra Lola corra) e lançado em 2006, narra, com uma grandiloqüência formal fortemente pautada em suas origens literárias, a trajetória fabular de um jovem aprendiz de perfumista. Desde seu precário nascimento, em plena agitação matutina de um fétido mercado de peixes parisiense, acompanhamos a impressionante incursão de Jean-Baptiste Grenouille pelos repugnantes estratos da sociedade francesa do século XVIII. Dotado de apuradíssimo olfato e impressionante resistência física, Grenouille sobrevive milagrosamente aos primeiros anos de vida. Após ser desprezado pela mãe, mantido em um orfanato até certa idade, e depois vendido como força de trabalho a um insalubre curtume da cidade, Grenouille desperta o interesse de um decadente perfumista local, que, fascinado por seu talento em combinar aromas e compor indescritíveis essências, o contrata como aprendiz, comprometendo-se a ensiná-lo a preservar o aroma das coisas do mundo. O jovem mostra-se obstinado em apreender todos os aromas que o envolvem. Com sua extraordinária e inata capacidade olfativa, Grenouille é capaz de diferenciar todos os odores que percorrem as ruelas de Paris, e num lance do acaso, acaba encontrando o aroma de uma jovem ruiva que o inebria. Matando-a sem intenção, descobre que o extasiante aroma da jovem esvai-se de seu corpo sem vida. A partir do incidente e da influência de seu tutor, Grenouille empreende uma obstinada busca pela formulação de um perfume capaz de reunir 13 aromas de belas donzelas, dando início uma onda de assassinatos sem precedentes em uma pacata cidade francesa.

Com impressionante riqueza de detalhes e preciosismo estético, Tom Tykwer faz uma brilhante adaptação do trágico e surpreendente romance homônimo do escritor germânico Patrick Süskind. Em uma produção caríssima para os moldes europeus (mais de 65 milhões de euros), Tykwer compõe uma impecável sinestesia visual, abusando de planos-detalhes e da brilhante direção de arte, eficazes em mergulhar o espectador nas sensações olfativas do protagonista. Os contrastes de luz e sombra e o tratamento “renascentista” das cores presentes na rica fotografia de Frank Griebe convidam-nos a apurar um dos sentidos mais caros para a recepção de uma obra cinematográfica: a visão. E assim, somos enojados por ágeis planos-detalhes que realçam tanto a natureza infame dos ambientes fétidos de uma baixa Paris, com suas ruelas e edificações rudimentares e seus detalhados espaços urbanos que beiram ao escatológico; e também inebriados pela tomadas lentas e contemplativas, realçando o caráter quase sublime das cenas em que os aromas de rosas e de belas donzelas cruzam o olfato do jovem perfumista. Com atuações mais técnicas do que intensas, porém eficazes, e figurino impecavelmente realista e refinado, principalmente na composição dos farrapos encardidos dos miseráveis parisienses, Perfume – a história de um assassino peca apenas no uso excessivo de uma trilha sonora bem composta, mas entediante depois de alguns intermináveis minutos.

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