Olhares em números

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Comentário Crítico: "Fernão Capelo Gaivota"


Após ler o livro de Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota, decidi assistir ao filme homônimo de Hall Bartllet, há muito tempo esquecido na minha prateleira. Depois de 1 hora e meia, já estava totalmente envolvido pelos sonhos de Fernão, e partilhando com ele os mesmos ideais. Como seria maravilhoso se pudéssemos aprender a voar sem limites. Fernão Capelo Gaivota é uma realização imponente. Do ponto de vista cinematográfico, não deixa de surpreender com suas magníficas cenas aéreas, de uma beleza envolvente e grandiosa. O filme narra a saga de Fernão Capelo, uma gaivota que sonhava com vôos mais altos dos que eram possíveis em seu bando. Fernão treinava sem descanso, e cada vez mais, lançava-se em velozes quedas-livres e vôos rasantes sobre o revolto oceano. Após alcançar alturas inimagináveis para uma gaivota, e libertar-se das leis e amarras que o prendiam à condição de seu bando, Fernão Capelo decide mostrar a todos uma nova maneira de voar, um vôo mais alto, mais veloz, além das limitações do grupo, que consideravam o ato de voar apenas necessário para, principalmente, adquirir alimento. Fernão Capelo Gaivota é banido. Exilado, inicia uma aprendizagem constante, sempre buscando vôos mais altos e mais velozes, até apanhar sua liberdade, alcançando um plano superior ao seu. Lá, recebe ajuda de outras gaivotas que lhe ensinam como voar sem limites e alcançar a perfeição. Com o uso de tomadas aéreas impressionantes, e filmagens documentais de gaivotas inseridas em cenários reais e significantes na trama, o filme mergulha o espectador em estágios simultâneos de contemplação e reflexão, transmitindo de forma simples e sensível os motivos do enredo. Aliada a uma ótima trilha sonora, com composições de Neil Diamond e uma brilhante fotografia, o diretor Hall Bartllet transpõe para a tela toda a riqueza dos planos metafóricos criados por Bach. A envolvente narração e as falas do texto são competentemente editadas sobre as filmagens do comportamento das aves em cada plano de cena, e assim, misturando-se de forma orgânica ao percurso visual das personagens naturais, acaba por proporcionar uma ponte absurdamente coesa para os significados humanos na trajetória de Fernão Capelo (eu quero ainda dizer que é impressionante, no filme, a verossimilhança da “fala” das gaivotas de acordo com suas “expressões faciais”. Soa até engraçado dizer isso, mas, em Fernão Capelo Gaivota, apresenta-se uma das melhores atuações animais que já vi no cinema). Naturalmente que, para este efeito verossímil de diálogo entre as aves e os argumentos do roteiro, a mão do diretor foi fundamental. Com enquadramentos conscientes e precisos e um trabalho igualmente sólido de montagem na pós-produção, o filme acrescenta qualidades visuais surpreendentes a toda transcrição emotiva contida na obra original. Mas sem dúvida, o mérito maior, na transposição do livro para o cinema, foi da genial fotografia. Em momentos complexos do enredo, notamos a arte do fotógrafo traduzindo as impressões de Fernão Capelo em seus vôos ascendentes. Cenas como a que vemos um bando de gaivotas sobre o lixo, contrastam, em seu aspecto realista e cruel, com as tomadas de Fernão em pleno vôo, em que se dissolvem no céu uma matiz viva de luzes e sombras, evidenciando o caráter elevado da condição de Fernão em relação aos seus companheiros. Fernão Capelo Gaivota é uma brilhante adaptação visual de um livro que fala com sensibilidade dos desejos e fracassos humanos. Entendemos, no ato de voar de Fernão, ricas metáforas para a condição dos homens que compartilham o mesmo sonho da busca interior pela plena realização.

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