Olhares em números

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Comentário Crítico: "Meu nome não é Johnny"


Com uma narrativa simplista e jocosa, Meu Nome não é Johnny peca pelo excesso de ingenuidade e superficialidade na abordagem dos inúmeros temas inseridos na trama. O filme conta a história de um jovem inteligente e esperto, porém inconseqüente. Típico “Boyzinho” de classe média, João Guilherme (Selton Mello, sempre fantástico, e infelizmente mal aproveitado pelo roteiro) mostrou-se desde pequeno possuir uma habilidade inata: conseguir dinheiro rápido, e gastá-lo mais rápido ainda. Afastando-se cada vez mais do convívio familiar, ou sufocando-o com as constantes festas entre amigos dentro da própria casa, Jõao entrega-se ao prazer do uso de drogas, e cada vez mais, mostra-se viciado pelos lucros que ela lhe poderia proporcionar, tornando-se um dos maiores e mais respeitados traficantes do asfalto da zona sul carioca. No entanto, sua fama passa a ser sua principal fraqueza. Usufruindo-se, em desmedida, de todo dinheiro arrecadado com a venda de drogas a amigos e conhecidos, João Estrella foi presa fácil para traficantes maiores, policiais corruptos e promotores públicos. A trajetória da personagem revela sua total displicência quanto às obrigações fundamentais de quem adquiri certa independência financeira e passa a morar sozinho (já antecipada quando fala da presença do pai como um vizinho na casa que diz ser cada vez mais sua), culminando em momentos desconcertantes e até irônicas (como quando nos surpreendemos com as atitudes compassivas dos policiais, ao perceberem a precariedade a qual João se sujeita em sua própria casa, mesmo sendo um famoso traficante de drogas). Com inúmeras influências e diversos temas, o filme de Mauro Lima (Tainá 2) atem-se a várias situações dramáticas vividas pela personagem central, no entanto, em nenhum momento demonstra levar seus conteúdos argumentativos a sério. Meu Nome não é Johnny, ao contar um história verídica, compromete-se com a necessidade de contextualizar os principais ambientes pelos quais passou seu protagonista, contudo, o caráter fictício de manipulação dos fatos no universo diegético do filme a fim de causar um efeito metafórico não pode deixar de incorrer sobre o processo de argumentação e concepção do roteiro. A partir deste fator implícito na produção cinematográfica, percebemos o principal pecado do diretor: o filme que poderia dizer muito, acaba por não dizer quase nada. Na primeira uma hora de projeção, somos apresentados à origem de todo descompasso na vida de João Guilherme, desde a adolescência de prazeres simples, como comprar roupas de marca e pranchas de surf; passando pela juventude rebelde de festas, azarações e o uso de drogas ilícitas (pressupomos que o consumo de drogas fora influenciado pelo vicio do pai e como uma válvula de escape para a separação dele e sua mãe), culminando em uma das únicas cenas com um peso dramático relevante, a morte do pai enquanto ocorre uma dessas festas. Com uma abordagem a fim de provocar o riso, o diretor adquire o mesmo caráter de seu protagonista ao trabalhar os diálogos e ações vinculados aos motivos narrativos, comprometendo a focalização séria e realista da trama. No ótimo O Senhor das Armas, de Andrew Nicoll, por conta do aspecto sóbrio e calculista do roteiro, tínhamos uma crítica necessária ao conteúdo político e social do enredo, causada pelas "tiradas" ácidas e inteligentes do irreverente personagem interpretado pelo ator Nicolas Cage, mas, em Meu Nome não é Johnny, somos enganados pelo ar, nem sempre verossímil, de comédia clássica (guardada suas devidas proporções, pois o filme mesmo não é uma comédia), onde o riso pressupõe a crítica e precede a moralização, mesmo quando causado pelos estereótipos (policias paspalhões e magnatas hollywoodianos) e situações forçadas (conflitos em presídios com necessidade de tradutor?). Mas os problemas maiores ocorrem na segunda hora, quando João Estrella perde as asinhas da liberdade e engaiola-se nas prisões da promotoria pública. Se Hector Babenco, com toda sua experiência, precisou de 2 horas para mostrar com relevância a situação de presidiários e carcereiros do sistema penitenciário em seu convívio diário, e Laís Bodanski, de quase 2 horas de projeção para contar, com seriedade e sensibilidade, a história de um jovem que é internado em um sanatório, depois de passar por estes mesmos dramas de juventude pelos quais Johnny passou, não é apenas baseando-se nas cenas de Carandiru e Bicho de Sete Cabeças (quase refilmando-as), respectivamente, que o diretor de Meu Nome não é Johnny vai conseguir, em algumas tomadas, mergulhar a personagem central no meio social perturbador da cadeia e do manicômio, permitindo que desta forma se encontre consigo mesmo e adquira forças para regressar ao lar (metáfora sempre recorrente para o necessário caminho de redescobertas e busca pela felicidade). Por estes e outros motivos (confesso que a escolha dos temas que compõe a trilha sonora me incomodou bastante em alguns momentos) justifico minha sensação de ausência de credibilidade para o desfecho da trama, na qual apenas somos informados de que Johnny foi curado e agora é produtor musical. Mesmo com atores experientes como Selton Mello, Cléo Pires (simpática na composição da personagem), Júlia Lemmertz (ótima como a mãe de João Guilherme, e infelizmente, esquecida pelo roteiro) e Giulio Lopes, que desde Contra Todos, mostrou-se muito talentoso, o filme espelha uma direção imatura e juvenil.

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